Distraídos, os seres humanos vagam pela terra numa hipnose coletiva sem se dar conta de que toda a organização universal opera para que ele se desenvolva.
A maioria olha apenas para cima, buscando uma saída para as suas angústias através das nuvens, confiantes num Deus do alto, distante, celestial que se veste de luz. Outros procuram os ovnis, o grande mistério extraterreno talvez na ânsia por entender de uma vez por todas a sua gigante pequenez. O fato é que temos dificuldades com as descidas, com o chão, em olhar para a terra.
O sistema no qual estamos inseridos, superestimula a ignorância de si mesmo. Por todos os lados observam-se projeções das mais diversas maldades e desvios de caráter. Os culpados são os outros. O mais difícil é encontrar a autorresponsabilidade, o exame de consciência e a mudança de conduta.
Quando não entendemos a dimensão simbólica da vida, estamos fadados a vivenciá-la no concreto. Enquanto olhamos para as nuvens, símbolo do mundo intermediário que pressupõe uma parte inferior, o mundo se afunda cada vez mais na lama das tragédias existenciais.
Precisamos parar de procurar a saída apenas na luz do sol, temos que perceber a simbologia da noite escura, das vivências telúricas que nos enviam sinais de deuses que desejam se manifestar através de nós. Entenda! São deuses! Odin, ísis, Ogum! Eles querem falar e agir através de nós e comunicar a nossa luz que só conseguirá vir a ser quando entendermos que os demônios, o sombrio e mal também estão aqui. E quanto mais inconscientes estivermos, mais força daremos a essas figuras que tanto nos assombram.
Quando descermos nas profundezas do Hades e visitarmos anciã sábia, Hécate, a velha que conhece a escuridão da alma e por isso sabe os caminhos de resistência desse lugar, entendemos que existe guarda em cada lugar do nosso ser. Não há o que temer, a não ser a eterna prisão da ignorância.
Mas essa descida voluntária ou não precisa nos fazer entender que; “Todas as coisas se encontram em processo, ascendendo e retornando. As plantas tornam-se botões, mas apenas para voltarem a ser raiz.”
É necessário voltar-se para a mãe, a natureza que tudo nos ensina, e onde encontramos as mais belas lições de amor. Seja na beleza de uma grande árvore que esconde a riqueza nas raízes e a reflete em sua copa ou na mágica flor-de-lótus que emerge em meio às águas escuras que criam condições extraordinárias de preservação das suas múltiplas pétalas em meio ao lodo. Elas acompanham o sol durante o dia e se fecham durante a noite. Ensinando que mirar na luz deve estar acompanhado da lembrança da nossa condição holística, da memória de olhar para baixo e da tarefa de integrar os opostos em busca da nossa essência.